quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Professor Expedito Parente: vai o homem ficam os sonhos!


Filiado ao Partido Verde, professor da UFC e criador do biodiesel; um homem antenado com a tecnologia voltada para o desenvolvimento que respeitasse a ecologia e elevasse a vida humana.
O Partido Verde do Ceará lamenta profundamente a partida de um dos homens que mais contribuiram mundialmente com o planeta, ao inventar o biodíseo, hoje unanimidade em todo o mundo como uma das tecnologias que podem diminuir os impactos do efeito estufa ao planeta.

conheça um pouco da história do grande homem, que nos deixa saudade e a honra de ter compartihado da sua convivência e inteligência rara, que nos últimos anos colocou a serviço do Partido Verde.



Expedito Parente: "Eu vi a molécula!"

No fim de 1977, o engenheiro químico Expedito Parente, então com 37 anos, estava em seu sítio a 100 quilômetros ao sul de Fortaleza. Sob a sombra de um ingazeiro, bebericava uma cachaça quando teve uma idéia: extrair óleo de sementes, misturá-lo com álcool e, após algumas reações químicas, obter um combustível – que viria a se chamar biodiesel. "Eu vi a molécula!", relembra ele, bem-humorado. Expedito Parente era professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em apenas uma semana de trabalho no laboratório, sua idéia já fazia funcionar um motor com óleo extraído da semente do algodão. Acabara de inventar um combustível vegetal, não poluente – justamente quando o mundo tentava se adaptar aos efeitos devastadores do choque do petróleo. "As reações químicas que permitiam obter um combustível vegetal já estavam teoricamente descritas na literatura havia cinqüenta anos. O que fiz foi aplicá-las", explica o professor, que registrou a patente do seu invento três anos depois – mas só agora, trinta anos mais tarde, começa a ver sua idéia se popularizar como uma solução para os problemas energéticos e ambientais do planeta. "Demorou para deslanchar, mas eu sou paciente e não desisti do meu sonho", diz ele, no escritório da sua empresa, a Tecbio, instalada no centro de Fortaleza.

Nos últimos trinta anos, o engenheiro químico viu altos e baixos de sua invenção. Logo que patenteou seu invento, o governo se interessou pelo novo combustível, que então se chamava "pró-diesel". Em pleno regime militar, as autoridades propuseram ao engenheiro químico que desenvolvesse sigilosamente um bioquerosene para abastecer os aviões da Força Aérea Brasileira. Nos primeiros quatro anos da década de 80, o inventor dedicou-se ao projeto militar. Em 24 de outubro de 1984, conseguiu fazer com que um Bandeirante voasse de São José dos Campos para Brasília com bioquerosene. No aeroporto, chegou a ser recebido pelo então presidente João Figueiredo, num sinal do interesse do governo pelo projeto. Mas, depois disso, surpreendentemente, o governo abandonou a idéia. Sem apoio oficial, Expedito Parente não teve muito que fazer, além de palestras, e sua invenção não chegou a ter viabilidade comercial. Como prevê a lei, em 1990 a patente do biodiesel expirou e a tecnologia tornou-se de domínio público. Em 1994, o professor aposentou-se e, sete anos depois, montou a Tecbio, que concebe e constrói usinas de biodiesel.

Agora, o governo voltou a se interessar pela invenção do professor. Ele passou a ser uma espécie de consultor informal para a área de biocombustíveis. Conquistou a confiança da ministra Dilma Rousseff, que, antes de ocupar a Casa Civil, era ministra das Minas e Energia. Em 2006, aproximou-se do presidente Lula, que freqüentemente o cita em seus discursos. No fim do ano passado, teve uma audiência de duas horas com Lula no Palácio do Planalto. O assunto, claro, era biodiesel. A última troca de gentileza entre os dois foi pública: ocorreu durante a inauguração de uma usina de biodiesel em Crateús, no interior do Ceará, em janeiro. No evento, Lula convidou o professor para falar sobre o combustível.

Aos 66 anos, casado pela segunda vez, pai de quatro filhos, um deles engenheiro deles engenheiro químico, Expedito Parente está finalmente ganhando dinheiro com sua invenção. No ano passado, a Tecbio, que tem sessenta funcionários, dos quais quarenta são engenheiros e economistas, faturou 18 milhões de reais. Tem clientes na Espanha, no Vietnã e nos Estados Unidos e já possui representantes em outros países da América do Sul, do Caribe e da África. Entre seus clientes está a Boeing, a maior fabricante de aviões comerciais do mundo. E o que Parente faz para a empresa americana? Desenvolve o bioquerosene, exatamente como tentou fazer para a FAB há trinta anos. O acordo é sigiloso e supervisionado pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. Sabe-se que os testes com o combustível já estão bastante avançados. Não será surpresa se, em algum momento, os aviões comerciais começarem a operar com combustível vegetal inventado pelo brasileiro. Ponto para os americanos. "Hoje ganho algum dinheiro, que não tenho tempo para gastar", diz o professor, em tom de brincadeira. Expedito Parente está feliz. Afinal, recebe por sua invenção, embora não diga quanto, e ainda tem o prazer de vê-la na vitrine das campanhas pela preservação do meio ambiente e como alternativa energética para um futuro próximo. Ele conta: "Em 2001, fiz um passeio com meu filho pelo interior da Alemanha e lá vi uma bomba de biodiesel num posto. Fiquei alegre de ver minha invenção difundida, mas frustrado porque aquilo não estava ocorrendo no Brasil. Agora, as coisas estão mudando. Tenho paciência. Sou um homem realizado".

Revista Veja, em 05/03/2007
 
Fonte: www.pvceara.org.br

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